A Falsa Comoção Social
- Helena Maia
- 31 de jul. de 2015
- 2 min de leitura

Escrevo partindo do princípio que todos – uma maioria com Facebook - estão a par dos links de "como estuprar uma mulher em festa/faculdade/escola/etc" e puxa, como é legal ver todo mundo indignado, todos apontando o dedo "olha que feio, isso é errado".
Mas não, isso não está tão legal assim. Vemos as pessoas falando como isso é errado e absurdo, mas é claro, é muito simples questionar quando está escrito ali, com todas as letras e acentos, as barbaridades ditas todo dia subentendidas.
Não querendo desmerecer as denúncias e reclamações desses fenômenos bizarros que aparecem por aí, mas não dá para apontar o dedo e depois pregar “slut-shamming*" com a amiga, não querer que a namorada ou irmã saia de casa de shorts. Dizer que estupro é feio é fácil, é simples, até o Eduardo Cunha poderia fazer essa afirmação, as propagandas da Segunda Guerra abordam negativamente esse assunto (“eles estupram nossas mulheres”), mesmo essa sendo mais um hino a posse e controle dos homens sobre suas esposas/filhas/mães/irmãs do que uma real preocupação com o bem-estar feminino.

A questão a que quero chegar é que sempre se ignoram as CAUSAS de homens como “Astolfo” saírem despejando lixo e incitando explicitamente violência internet a fora. Existem blogs como o do Tio Astolfo, porque atrás disso há uma cultura inteira na qual a mulher é subjugada e objetificada (simbólica e fisicamente), porque nas escolas pregam slut-shamming, porque nos dizem todos os dias que não podemos gostar dos nossos corpos, exibi-los e explorá-los para nosso próprio prazer e autoestima, porque propagandas machistas rodam todo o tempo na TV, rua e rádio. O ponto em que quero chegar é que é o machismo de cada dia – aquele implícito nas ações cotidianas e que quando apontado é rebatido pelo famoso “você vê machismo em tudo” - é que leva os homens a acreditarem que algum direito – ou opinião – sobre nossos corpos. Isso é cultura do estupro, nossa cultura, que nós ajudamos a conservar todo dia quando nos calamos perante ao machismo.
Talvez o “Tio Astolfo” tenha problemas psicológicos, talvez, mas não restrinjamos o estupro a pessoas que lidam com transtornos mentais, porque é o homem comum de cada dia que estupra uma mulher a cada 4 minutos no Brasil, é o homem que foi ensinado desde pequeno que pode e deve bater na esposa se ela sair da linha, que se ela está de saia curta é porque quer atenção masculina e se fez sexo casual, é puta. Frases como “essa saia tá muito vulgar” são ditas constantemente pelos que nos cercam e são sempre ignoradas, levadas na boa. Então paremos com essa indignação raza e vazia, porque no resto dos dias do ano você vai continuar dizendo que ela estava pedindo, que estava bêbada, que era de noite e perigoso; perpetuando pretextos que apenas desculpabilizam o estuprador e a sociedade a volta.
* slut-shamming: induzir a mulher a se sentir culpada, envergonhada, em relação a comportamentos que a ligariam a imagem pejorativa de "vadia". Dentro desse conceito se têm, subjugar suas roupas por serem curtas demais, vulgares, condenar suas práticas sexuais, sua liberdade e poder sobre próprio corpo baseando-se no estígma de que a mulher deve ser recatada e se preservar, aquelas que não o fazem são vadias, putas, etc.
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