A cara da nova geração feminista
- Fernanda Tavares
- 5 de jul. de 2015
- 2 min de leitura

O Colégio São Vicente de Paulo, fundado no final dos anos 1950, era uma instituição, como muitas outras da época, exclusiva para homens. Hoje em dia, ao subir as escadas da escola, o aluno encontra cartazes com frases do tipo “Não posso ser a mulher da sua vida, pois estou ocupada sendo a mulher da minha.” Entrando-se nas salas, não é raro se deparar com mensagens empoderadoras nos murais. Sim, aparentemente, o colégio foi inteiramente conquistado pelas feministas, mas um olhar atento desmente totalmente essa afirmação. Em carteiras estão rabiscadas por crianças de doze anos dizeres como “mulher = alimento”. Quando meninas declaradas feministas levantam a mão para falar sobre alguma questão polêmica em sala de aula, não é raro ouvir suspiros de chateação ou comentários negativos. E ainda ouve-se frases como “vocês já fizeram a palestra, não precisam ficar enfiando feminismo em tudo, a gente já entendeu” quando algumas meninas organizaram um flashmob dentre os vários que ocorreu na Feira de Linguagens.
Decididamente, o Coletivo Femininja Vicentino ainda tem um longo caminho a percorrer, para a tristeza dos machistas (enrustidos ou não). Fundado por meninas do primeiro ano do Ensino Médio, em forma de grupo do Facebook, o coletivo em primeiro lugar foi um espaço seguro para garotas tirarem suas (muitas) dúvidas sobre o movimento, debaterem sobre o assunto e principalmente compartilharem suas experiências em um ambiente compreensivo e que tenta o seu máximo para ser livre de preconceitos. A notícia se espalhou e as próprias criadoras pareceram espantadas com a proporção que o grupo tomou.
Atualmente, a associação conta com mais de oitenta pessoas e apenas não aceita homens cis-gênero, para manter o espaço seguro e livre de constrangimentos. Dentre as diversas correntes feministas, a que mais representa a maioria des menines é a interseccional. A corrente interseccional reconhece que outras questões além do machismo também agravam a opressão de algumas mulheres e faz recortes étnicos, de classe, de orientação sexual, dentre outros. Apesar disso, é constante que, mesmo dentro desse aspecto do feminismo ainda existam muitas dúvidas e discordâncias e por isso o grupo continua bem ativo.
No que se refere às ações externas do Coletivo, pode-se citar a palestra que aconteceu no início desse ano sobre o papel da mulher na sociedade, promovido por algumas meninas do grupo junto da escola. Apesar de muitas dificuldades, incluindo com a própria coordenação do colégio e com algumas falas de palestrantes, na opinião des integrantes, a primeira tentativa de afirmação do Coletivo como tal foi um sucesso.
Quanto aos próximos passos, há uma ideia remota de se comunicar com outros grupos semelhantes de diversas instituições de ensino para um grande encontro. Esse “congresso” teria o objetivo de reunir todos esses focos de luta feminista e fazê-los ainda mais fortes, informados e articulados, além de apresentar para es menines “feminiciantes” as várias faces e manifestações tanto do machismo quanto da luta contra este.
Finalmente, é sempre bom lembrar que o Coletivo está sempre aberto para menines interessades em conversar, se mobilizar ou até mesmo conhecer melhor o feminismo. Não existem lideres e nem restrições quanto às opiniões des participantes, porém o respeito é sempre uma prioridade, para que todes se sintam confortáveis.
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